Monday, September 10, 2012

A bicicleta de Enrique


Vou contar a minha história na primeira pessoa. Sou uma bicicleta, é certo, mas aventuras não me faltam e tenho muitas experiências para partilhar. O meu primeiro dono era um rapaz que adorava a rua. Fazíamos uma boa dupla, eu dava-lhe a velocidade e a energia que aqueles anos de adolescente pediam. Ele dava-me novas direções: abrandava quando passávamos em raparigas bonitas e acelerava antes de entrarmos numa subida vertiginosa. Era uma emoção e eu nunca o deixava ficar mal. Quando chovia, eu descansava mais, mas não tardava muito até o Henrique me levar a sentir o cheiro da chuva a evaporar-se da terra. Depois, aconteceu uma coisa estranha, ele cresceu e eu mantive-me sempre estática: roda 24. Ele tinha pena, mas não me podia levar a circular porque eu já não suportava o seu peso e por isso fiquei muito arrumadinha na sua garagem. Ele continuava a gostar de mim: vinha frequentemente falar comigo e até me dava um banho anual, mas eu já não me sentia útil. A minha corrente enferrujou-se, 
um travão quebrou e as mudanças desafinaram, só os meus pneus continuavam teimosamente cheios. O meu novo dono não sei ainda quem é, mas sei que terei nova vida porque o Henrique me levou ao Banco de Bicicletas. Fiquei bem emocionada ao ver tantas bicicletas velhas como eu a serem restauradas. Algumas estavam desfragmentadas, mas as suas peças eram preciosas para a recuperação de outras.


Voltei para casa com o meu primeiro dono e sei que ele me vai atribuir um novo fim (suspeito que serei a bicicleta do seu filho). Mas fiquei a saber que podia ter ficado naquela cicloficina e que o Banco de Bicicletas se encarregaria de me pôr novamente em circulação. Por isso, não poderei ainda acabar de contar a minha história, pois ela não
acaba aqui!
Boas aventuras!