Saturday, April 21, 2012

Bendita crise! Rumo ao 350...

No início do ano, um amigo russo a viver no Cazaquistão, cuja economia tem crescido muito graças ao petróleo, perguntou-me se estava tudo bem comigo e com a minha família, já que tinha ouvido falar de uma crise em Portugal e na Europa e receava o que isso pudesse implicar (como revoluções sociais e dificuldades financeiras). Disse-lhe que tinha ouvido corretamente. Contudo, a crise que lhe chegou através dos jornais, tratava-se de uma crise económica fruto de gestões financeiras narcísicas e megalómanas de banqueiros e governos, alastrando-se a todos os níveis sociais, com pedidos de empréstimos para tudo… para ir de férias ou para comprar algum eletrodoméstico. Naturalmente, chegou-se ao ponto em que não mais havia dinheiro para pagar os empréstimos contraídos, numa sucessão de cartas a caírem desde o topo até à base e da base até ao topo.
Há, então, muita conversa à volta da crise, quase todos estão muito preocupados com os cortes e a falta de subsídios. Claro que há claros motivos de preocupação, contudo é tempo de oportunidade para uma transformação social, acertar com o essencial e retomar o sentido que nos leva a realizar mais vida e maior felicidade. Como sociedade temos estado a trilhar um caminho sem sentido de consumismo desenfreado, poluição, exploração da natureza, muitos têm vivido orientados sufocadamente para o trabalho e o dinheiro, de depressões, individualismo, de menos contactos humanos diretos e pessoais, menos lazer, menos qualidade e menos realização e por aí fora. Por isso, penso que as crises são sempre boas para desenvolver, repensar e recriar as prioridades da pessoa, da família e da sociedade e reinventar novos modos de respeitar e cooperar com a natureza, os seres humanos e conectar com a Transcendência, o Universo, Deus, a Mente Cósmica, como lhe queiram chamar.
Uma prioridade é marcada pelo número 350! Este é o nível máximo de segurança apontado pelos cientistas para o nível de CO2 atmosférico, ou seja, 350 partes por milhão de CO2 na atmosfera. Partimos atualmente de cerca de 390 ppm (in www.350.org), valor que causa problemas diretos na saúde humana, no aquecimento global, no desgelo dos glaciares, na subida das águas e na maior probabilidade de catástrofes naturais. Trata-se pois de evitar a completa catástrofe.
O cientista da NASA, Jim Hansen, e outros cientistas reconhecidos, sugerem objetivos concretos:
1. parar de queimar carvão altamente poluente o mais depressa possível;
2. reduzir a desflorestação e melhorar a conservação do solo, bem como deixar de poluir os oceanos para permitir que os chamados “sumidouros”, sistemas naturais que absorvem o CO2, possam restabelecer-se;
3. reduzir drasticamente o uso de todos os outros tipos de combustíveis fósseis, como o petróleo, areias asfálticas e gás natural.
Isto leva-nos à equação simplificada:
Energias Renováveis + Proteção das Florestas + Transportes Ecológicos + Melhor Eficiência = + Vida

Alguns dirão que os maiores efeitos de mudança estão nas mãos de estruturas governamentais, que redigem e implementam as políticas do topo para a base, mas a consciência e o exemplo verdadeiros têm outros meios de ação: começam numa pessoa que partilha com a vizinha do lado, alastrando e conquistando mais e mais pessoas até que pelo caminho ou em última instância quem faz as leis e as políticas tome consciência de que uma nova realidade é possível.  
Façamos todos, nós começámos no nosso “quintal” aqui ao lado ;)


1 comment:

  1. tens muita razao, as crises tornam as pessoas mais conscientes do poder de mudança na sociedade que cada um tem.

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