No início do ano, um
amigo russo a viver no Cazaquistão, cuja economia tem crescido muito graças ao
petróleo, perguntou-me se estava tudo bem comigo e com a minha família, já que
tinha ouvido falar de uma crise em Portugal e na Europa e receava o que isso
pudesse implicar (como revoluções sociais e dificuldades financeiras).
Disse-lhe que tinha ouvido corretamente. Contudo, a crise que lhe chegou através
dos jornais, tratava-se de uma crise económica fruto de gestões financeiras
narcísicas e megalómanas de banqueiros e governos, alastrando-se a todos os
níveis sociais, com pedidos de empréstimos para tudo… para ir de férias ou para
comprar algum eletrodoméstico. Naturalmente, chegou-se ao ponto em que não mais
havia dinheiro para pagar os empréstimos contraídos, numa sucessão de cartas a
caírem desde o topo até à base e da base até ao topo.
Há, então, muita conversa
à volta da crise, quase todos estão muito preocupados com os cortes e a falta
de subsídios. Claro que há claros motivos de preocupação, contudo é tempo de
oportunidade para uma transformação social, acertar com o essencial e retomar o
sentido que nos leva a realizar mais vida e maior felicidade. Como sociedade
temos estado a trilhar um caminho sem sentido de consumismo desenfreado,
poluição, exploração da natureza, muitos têm vivido orientados sufocadamente
para o trabalho e o dinheiro, de depressões, individualismo, de menos contactos
humanos diretos e pessoais, menos lazer, menos qualidade e menos realização e
por aí fora. Por isso, penso que as crises são sempre boas para desenvolver,
repensar e recriar as prioridades da pessoa, da família e da sociedade e
reinventar novos modos de respeitar e cooperar com a natureza, os seres humanos
e conectar com a Transcendência, o Universo, Deus, a Mente Cósmica, como lhe
queiram chamar.
Uma prioridade é marcada
pelo número 350! Este é o nível máximo de segurança apontado pelos cientistas
para o nível de CO2 atmosférico, ou seja, 350 partes por milhão de CO2 na
atmosfera. Partimos atualmente de cerca de 390 ppm (in www.350.org), valor que
causa problemas diretos na saúde humana, no aquecimento global, no desgelo dos
glaciares, na subida das águas e na maior probabilidade de catástrofes
naturais. Trata-se pois de evitar a completa catástrofe.
O cientista da NASA, Jim Hansen, e outros cientistas reconhecidos, sugerem
objetivos concretos:
1. parar de queimar carvão altamente poluente o mais depressa possível;
2. reduzir a desflorestação e melhorar a conservação do solo, bem como
deixar de poluir os oceanos para permitir que os chamados “sumidouros”,
sistemas naturais que absorvem o CO2, possam restabelecer-se;
3. reduzir drasticamente o uso de todos os outros tipos de combustíveis
fósseis, como o petróleo, areias asfálticas e gás natural.
Isto leva-nos à equação simplificada:
Energias Renováveis + Proteção das Florestas + Transportes Ecológicos +
Melhor Eficiência = + Vida
Alguns dirão que os maiores efeitos de mudança estão nas mãos de estruturas governamentais, que redigem e implementam as políticas do topo para a base, mas a consciência e o exemplo verdadeiros têm outros meios de ação: começam numa pessoa que partilha com a vizinha do lado, alastrando e conquistando mais e mais pessoas até que pelo caminho ou em última instância quem faz as leis e as políticas tome consciência de que uma nova realidade é possível.
Façamos todos, nós
começámos no nosso “quintal” aqui ao lado ;)
tens muita razao, as crises tornam as pessoas mais conscientes do poder de mudança na sociedade que cada um tem.
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